A tradição na produção de vinhos aqui no Rio Grande do Sul, aliada à circulação de excelentes marcas dessa bebida no Estado e até mesmo à proximidade com a Fronteira sempre fizeram com que uma frase se tornasse muito comum essa época do ano: "Está frio, bom para tomar um vinho". Com o fortalecimento do movimento da cerveja artesanal, tem se tornado cada vez mais frequente outra expressão: "Está frio, bom para uma cerveja de inverno". Por favor, não pensem que estou dizendo que as pessoas deixarão de lado o hábito de tomar vinho, eu mesmo adoro apreciar um bom vinho. O que estou tentando mostrar é que as cervejas artesanais ampliaram o leque de possibilidades para quem gosta de saborear bebidas com teor alcoólico mais elevado ou, dizendo de outra forma, que dão uma "aquecidinha" no corpo em dias mais frios.
Algo que me encanta no universo das cervejas é que para cada época do ano existe uma boa combinação. Basta adequar o estilo. Para os dias frios, por exemplo, uma cerveja com teor alcoólico mais elevado vai provocar uma sensação de aquecimento. Uma dica é, em meio às opções cada vez mais diversificadas dos cardápios, escolher as cervejas mais intensas, como a
Barley Wine, que traduzindo para o português significa "vinho de cevada", com graduações que variam de 9% a 12%.
Detalhes que fazem a diferença
Existem alguns detalhes que nem sempre são levados em conta e faz toda a diferença quando relacionamos cerveja e frio. Ao contrario das tradicionais pilsens, que ficaram famosas como as "loiras geladas", em que se busca a refrescância; as cervejas de inverno devem ser apreciadas em temperaturas um pouco mais elevadas, que variam de 6 a 8 °C. Além disso, o copo influencia. No caso da Barley Wine, deve ser do tipo taça, como o de conhaque, que permite que a cerveja seja levemente agitada, em movimentos circulares, mantendo a espuma e liberando os aromas, normalmente muito complexos, e em muitos casos amadeirados. Vamos combinar que só dizer aroma amadeirado já traz uma série de lembranças relacionadas ao inverno: fogueira, fogão à lenha, pinhão...
Outra opção, uma excelente opção por sinal, é a Tripel, uma cerveja belga, com muita personalidade, de cor pálida. O estilo, originalmente produzido por monges trapistas, tem seu nome originário de tripla, ou seja, algo como três vezes mais malte na sua produção, e ela conta com as irmãs Enkel (básica) e Dubbel (Dupla). Normalmente, com graduação alcoólica em torno de 9%.
Essas são cervejas bem carbonatadas (com bastante espuma), bastante secas (baixo dulçor), com aromas herbáceos, condimentados e cítricos com baixo amargor, não muito persistente. A Tripel deve ser servida em um cálice, chamado de Goblet, com a boca larga a fim de manter o creme. Eles são muito bonitos, por sinal, e normalmente são decorados com um filete de dourado na borda.
Existe, ainda, a Doppelbock, alemã, lager, com bastante caráter de malte, cor de cobre, com graduação alcoólica, normalmente em torno de 8%, é literalmente, uma "dupla bock". No idioma alemão, a palavra bock, pode ser traduzida por bode, então não estranhe se tiver um bode ou uma cabra no rótulo da sua cerveja. Em Santa Maria a Macchina Cervejeira lançou neste inverno a cerveja Turmeira, uma doppelbock que homenageia o padre das cabras, que fazia um excelente trabalho social ao longo das vias férreas da nossa região e que ficou famoso por distribuir cabras para que produzissem leite para alimentar as crianças.
Como se pode ver, frio combina MUITO com cerveja, e como não canso de dizer, cada cerveja tem sua história e suas combinações. Para quem gosta, isso se torna, simplesmente, fascinante. Por hoje era isso, escolha a sua preferida e prost!